sábado, 16 de abril de 2011

Caetaneando Caetano...

Adriana Calcanhotto já fez música se deliciando na degustação de cada parte sua; Djavan criou o verbo "caetanear" no meio de sua "Sina" e a própria Maria Bethânia, em meio a seus shows e profusões de divindades, cita-o como uma espécie de semideus junto a seus tão poderosos orixás. Caetano Veloso, um outrora tímido rapaz que, graças à oportunidade de se apresentar ao Brasil (feita pela irmã Bethânia), pôde mostrar que tinha muito mais a dizer e ser ouvido e hoje se consagra como um dos maiores compositores já existentes, com uma relevância indescritível para a música brasileira - e com reflexo nas de outras nações também.

Caetano tem um percurso muito único na música popular brasileira. Criou hinos de revolta política panfletária; fundou movimentos musicais (Tropicalismo); fez com Gilberto Gil uma das parcerias mais intelectuais e afinadas em termos de composição, e, unindo ainda sua irmã e Gal Costa (as cantoras que mais lhe interpretaram, até hoje), compôs o quarteto hippie dos anos 70 "Doces Bárbaros", conquistadores de público e crítica. A partir da década de 80 proliferou-se no exterior, tendo sua música alcançado diversos países. Isso, é claro, sem contar a infinidade de músicas que se popularizaram como hits em coletâneas, filmes, novelas...

Alguns torcem o nariz pra seu jeito de agora, mais "soberbo" ou sem tanta paciência. Outros, contudo, constatam: o cara tem uma opinião que vale ouro. Passou pelo crivo de Caetano, pode esperar que é coisa boa. Abençoa novatos, opina com propriedade sobre trabalhos de colegas. É ser chique, ser cult, é demonstração de nível elevado mostrar que gosta do compositor e que acata suas opiniões como fiéis seguidores da escola 'boa cultura de ser", tendo o baiano como referência intelectual. Uma espécie de religião Caetano que, como as doutrinas religiosas, provoca polêmicas e não consegue fidelizar todo mundo, mas que ainda assim tenta, de tempos em tempos, convocar mais seguidores...

Eu me situo no cantinho mais confortável e contemplador da parte de cima do muro. Gosto dele, acho que tem talento e capacidade de criar coisas que acabam se tornando lendárias, mas também vejo que existe gente com tanto talento quanto, o que dismistifica essa coisa de "Deus". Admiro bem mais sua trajetória e prefiro os hinos da época da ditadura e de todos aqueles anos difíceis do que escutá-lo, hoje, dando suas declarações bombásticas sobre assuntos diversos (política, no topo). É aquela coisa: gostava mais do moço quando "fazia". Língua ferina todos nós temos...

Fiquemos então, pois, com um dos pontos mais fortes do cantor. A música "Alegria Alegria" enfoca elementos culturais do exterior e pincela em pontos beligerantes tão críticos naquele tempo (década de 60). Provocou, quando foi apresentada (1967, num dos grandes festivais típicos da época) uma estranheza inicial e um discreto sentimento xenófobo, mas que logo foram substuídos pela "alegria' propriamente dita. É uma música totalmente cinematográfica - "letra-cãmera-na-mão" como bem definiu Décio Pignatari. Fora ainda dos marcos iniciais do tropicalismo e tema de abertura da novela Sem Lenço Sem Documento (1977) e da minissérie Anos Rebeldes (1992). Vamos então à letra e ao vídeo, para que tirem vocês mesmos as próprias conclusões sobre o que Caetano de fato representa.


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