quarta-feira, 20 de abril de 2011

Augusto dos Anjos: 127 anos do poeta

No dia 20 de abril de 1884, há exatos 127 anos nascia na região de Cruz do Espírito Santo, atual município de Sapé no estado da Paraíba o poeta Augusto dos Anjos. Considerado um dos maiores escritores brasileiros e mundiais, foi eleito em 2001 "O Paraibano do século XX" e é conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários.

 
Hoje o mundo da poesia relembra a memória e a obra deste escritor Paraibano, filho do carbono e do amoníaco. Em João Pessoa, no Teatro Santa Roza, o músico Chico Viola apresenta nesta quarta, às 20h, o espetáculo 'Viola dos Anjos', projeto que objetiva musicar a obra do poeta.

“Augusto é de muita musicalidade, não tenho uma formação musical para me considerar músico, minha formação é teatral, por isso fiz uma leitura, o que facilitou”, afirma Chico Viola.


Segundo Chico Viola, o projeto nasceu em 1998, com uma apresentação na praça Antenor Navarro, onde ele fez uma leitura musical do soneto “Versos Íntimos”. “Um amigo gostou e sugeriu que eu aumentasse o repertório”, conta.

Chico Viola 

“O músico Chico Viola é poeta por excelência”, define a poetisa Nara Limeira. “Tem se mostrado na cena musical como um criador que leva ao extremo o ofício de sê-lo. Propõe um pensar o mundo pelos olhos da arte que reinventa a vida. Recria o cotidiano através de um jeito alternativo de conviver com o caos urbano no terceiro milênio”, analisa. 

“No princípio achei difícil, mas com a insistência foi se tornando fácil”, afirma Chico sobre a concepção do repertório para o espetáculo de hoje à noite. “O soneto ‘A Ideia’ deu muito trabalho e foi com dois acordes concluídos. Já ‘Contrastes’, de uma outra forma os acordes ajudaram a construir a leitura. Outros se fizeram de forma que a linha melódica ajudava na leitura e a leitura ajudava a melodia.”

Nara ainda destaca nesse trabalho, as melodias de “A Árvore da Serra”, “Psicologia de um Vencido” e “Alucinação à Beira-mar”. “Nessa última, Chico dá um nó na ampulheta e proporciona o diálogo entre Augusto com Lia de Itamaracá. Com uma dicção própria, Chico Viola traz uma proposta musical que reafirma o que o poeta diz em palavras e poesia.”

De acordo com Nara Limeira, sua musicalidade entrelaça as canções, formando um único “Eu” e construindo a trilha sonora do livro deixado por Augusto dos Anjos. “O resultado é um material agradável a ser explorado e divulgado por educadores e amantes da poesia. Se você pensa que a boa música de Chico Viola reveste a poesia de Augusto com a melhor pele, engana-se. Ao contrário, a música de Chico Viola desnuda Augusto dos Anjos.”

Um pouco mais sobre Augusto dos Anjos

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, Paraíba, no dia 20 de abril de 1884. Aprendeu com seu pai, bacharel, as primeiras letras. Fez o curso secundário no Liceu Paraibano, já sendo dado como doentio e nervoso por testemunhos da época. De uma família de proprietários de engenhos, assiste, nos primeiros anos do século XX, à decadência da antiga estrutura latifundiária, substituída pelas grandes usinas. 

Em 1903, matricula-se na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1907. Ali teve contato com o trabalho "A Poesia Científica", do professor Martins Junior. Formado em direito, não advogou; vivia de ensinar português. Casou-se, em 04 de julho de 1910, com Ester Fialho. Nesse ano, em conseqüência de desentendimento com o governador, é afastado do cargo de professor do Liceu Paraibano. Muda-se para o Rio de Janeiro e dedica-se ao magistério. Lecionou geografia na Escola Normal, depois Instituto de Educação, e no Ginásio Nacional, depois Colégio Pedro II, sem conseguir ser efetivado como professor. Em 1911, morre prematuramente seu primeiro filho. Em fins de 1913 mudou-se para Leopoldina MG, onde assumiu a direção do grupo escolar e continuou a dar aulas particulares. 

Seu único livro, "Eu", foi publicado em 1912. Surgido em momento de transição, pouco antes da virada modernista de 1922, é bem representativo do espírito sincrético que prevalecia na época, parnasianismo por alguns aspectos e simbolista por outros. Praticamente ignorado a princípio, quer pelo público, quer pela crítica, esse livro que canta a degenerescência da carne e os limites do humano só alcançou novas edições graças ao empenho de Órris Soares (1884-1964), amigo e biógrafo do autor.

Cético em relação às possibilidades do amor ("Não sou capaz de amar mulher alguma), Nem há mulher talvez capaz de amar-me"), Augusto dos Anjos fez da obsessão com o próprio "eu" o centro do seu pensamento. Não raro, o amor se converte em ódio, as coisas despertam nojo e tudo é egoísmo e angústia em seu livro patético ("Ai! Um urubu pousou na minha sorte"). A vida e suas facetas, para o poeta que aspira à morte e à anulação de sua pessoa, reduzem-se a combinações de elementos químicos, forças obscuras, fatalidades de leis físicas e biológicas, decomposições de moléculas. Tal materialismo, longe de aplacar sua angústia, sedimentou-lhe o amargo pessimismo ("Tome, doutor, essa tesoura e corte / Minha singularíssima pessoa"). Ao asco de volúpia e à inapetência para o prazer contrapõe-se porém um veemente desejo de conhecer outros mundos, outras plagas, onde a força dos instintos não cerceie os vôos da alma ("Quero, arrancado das prisões carnais, / Viver na luz dos astros imortais").

A métrica rígida, a cadência musical, as aliterações e rimas preciosas dos versos fundiram-se ao esdrúxulo vocabulário extraído da área científica para fazer do "Eu" — desde 1919 constantemente reeditado como "Eu e outras poesias" — um livro que sobrevive, antes de tudo, pelo rigor da forma. Com o tempo, Augusto dos Anjos tornou-se um dos poetas mais lidos do país, sobrevivendo às mutações da cultura e a seus diversos modismos como um fenômeno incomum de aceitação popular. Vitimado pela pneumonia aos trinta anos de idade, morreu em Leopoldina em 12 de novembro de 1914.

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